Agir preventivamente é a melhor estratégia diante de qualquer vírus.

Luiz Eduardo Oliveira
Doutorando em Saúde e Ambiente

Enquanto nos são impostas medidas de confinamento, o meu Estado continua investindo em obras de embelezamento de nossa capital, Aracaju. Não que as medidas de revitalização, anteriormente planejadas, não sejam importantes. Claro que são mas não dá para assistir a este espetáculo de realização de obras e ficar calado diante dos acontecimentos… Todos sabem e sentem “na pele” a total incapacidade do sistema de saúde estadual e municipal, situação severamente agravada diante do quadro do COVID 19, mas quais as medidas adotadas e quais as ações concretadas para lidar com o minúsculo vírus?

Conclamar e obrigar os profissionais de saúde para um trabalho por vocação é uma perversidade, pois os mesmos além de não recebem o teto salarial, não gozam de dois meses de férias ao ano. Se tínhamos hospitais completamente despreparados para as situações corriqueiras, o que dizer da possibilidade real diante do quadro de uma pandemia? As obras de embelezamento continuam e na Atalaia começaram as reformas do novo cartão postal da cidade. Quando a pandemia, prevista, fizer seus primeiros óbitos nesta cidade ficaremos a implorar do governo federal mais verbas. Poderíamos agir preventivamente, ou não?

Os valores destinados a essas obras, importantes mas não essenciais ou imprescindíveis, deveriam necessariamente ser utilizadas para o combate a este maldito vírus. Não venham dizer que tais verbas não poderiam ser “desviadas” sob pena de crime de responsabilidade pois para isto bastaria o envolvimento das instituições e dos poderes. Estamos falando de mortes de pessoas e de empresas. Prédios abandonados ou fechados a exemplo do antigo prédio onde funcionava o INSS, o prédio onde outrora existiu o famoso Hotel Palace, são só alguns exemplos para aplicação de verbas “de fachadas”.

Poderiam ser comprados respiradores artificiais, equipamentos de proteção individual para os profissionais da saúde, reformas das novas alas azul, amarela, vermelha, investimento em segurança para o exercício destas atividades, transporte para condução destes profissionais que provavelmente ultrapassarão suas jornadas habituais, inclusive investimentos em seus salários. Não se combate esta batalha sem estratégias, com amadores e com o auxílio somente da religião.

Nossa população não entendeu ainda a gravidade da situação e pedir para os cidadãos ficarem em casa é uma total falta de conhecimento. A maioria dos aracajuanos luta pelo alimento diariamente, em habitações sem ventilação, sem água, sem cômodos para abrigar seus filhos ao mesmo tempo. Fechar os olhos a esta realidade é tão cruel como o próprio vírus. A grande maioria não receberá seus salários ficando em casa, realizando um tele trabalho, em regime de plantão. Uma parte são idosos, com algum tipo de doença associada como hipertensão ou diabetes. O sistema penitenciário atingirá o caos em pouco tempo, só que agora mais mortal para os que estão do lado de fora. Os profissionais de saúde não terão como realizar suas atividades profissionais naqueles espaços e com segurança.

Onde poderiam agir o Ministério Público, o Tribunal de Contas, o Legislativo e o Poder Judiciário? Não adianta, simplesmente postergar audiências, estabelecer regimes de plantão e colocar em trabalho virtual seus membros e servidores. Poderemos pagar um preço muito alto por tanta omissão. Como justificar a falta de leitos, a falta de hospitais de campanha, de profissionais em saúde se as verbas estão destinadas a outro fim? São muitas questões, com respostas, porém o interesse é outro.

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