Mídias sociais: veículos do bem e do mal!

Antônio Carlos Sobral Sousa

Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação

A pandemia da Covid-19 tem provocado uma série de transformações na sociedade, merecendo destaque a comunicação mediante as mídias sociais. O receio do contágio combinado com as restrições de mobilidade, direcionaram as pessoas para a mídia digital que consiste no veículo de comunicação que se baseia na internet e a utiliza como meio de distribuição. Esta forma oferece a possibilidade de interlocução em tempo real, ao contrário da mídia analógica, também conhecida como tradicional ou mídia off-line. Em veículos de comunicação analógica, como jornais impressos, por exemplo, o receptor não tem como responder imediatamente à informação que recebe. Já nos veículos da mídia digital, ele assume o poder de questionar qualquer conteúdo no momento em que sentir necessidade. O marketing digital passou a ser, portanto, uma estratégia adotada por várias empresas, uma vez que é capaz de alcançar aquelas pessoas que têm maior potencial de consumir seus produtos ou serviços.

Desse modo, o mundo precisou se adaptar e com isso a comunicação tornou-se majoritariamente digital; foi o que aconteceu com o tradicional Jornal do Commercio de Recife, um dos maiores do Nordeste, com 102 anos de existência e pertencente ao Grupo JCPM do ilustre sergipano João Carlos Paes Mendonça, que migrou da forma impressa para a digital. Seguindo a mesma linha, se disseminaram os trabalhos do tipo home office e as reuniões on-line. Até os congressos também passaram a ser de forma virtual. Tem sido verificado que o entretenimento, por meio das mídias digitais, também ganhou impulso considerável ultimamente, talvez como forma de aliviar o estado tóxico proporcionado pelos tempos difíceis causados pela atual Peste.

O desespero das pessoas por notícias durante a pandemia tornou, portanto, as mídias sociais um veículo democrático de comunicação, em diversas plataformas, sendo as mais acessadas no Brasil, por ordem decrescente: YouTube, WhatsApp, Facebook, Instagram, TikTok e Telegram. Todavia, o aumento dramático na divulgação de conhecimentos, muitos dos quais sem respaldo científico adequado, gerou o que se denomina “infodemia”, ou seja, fluxo excessivo de informações sobre determinado assunto – sobretudo se veiculadas por fontes não fidedignas – que, à maneira de uma epidemia, se multiplicam num curto período de tempo, gerando desinformação e tornando o esclarecimento mais difícil. Foi no fértil campo do tratamento medicamentoso da referida virose, que se verificou a maior propagação de Fakes. Notícias sem o devido lastro científico, preconizavam o seu uso indiscriminado em qualquer fase da COVID-19 e até na sua prevenção, de medicamentos como a Cloroquina e a Ivermectina. O uso deste último ainda continua sendo preconizado nas redes sociais, apesar de estudos bem conduzidos (DOI: 10.1186/s12985-022-01829-8) não comprovarem a sua eficácia. Diante desses acontecimentos, o Diretor-Geral da OMS, Tedros Adhanom assim se pronunciou: “Não estamos apenas lutando contra uma epidemia; nós também estamos lutando contra uma infodemia”. 

Atualmente as vacinas constituem o principal alvo dos negacionistas que, baseado em relatos de pseudocientistas, inundam as plataformas digitais com notícias que colocam em dúvida a eficácia dos imunizantes, lhes conferem efeitos colaterais de todas as naturezas e afirmam, categoricamente, que o objetivo de seu uso é o de exterminar humanos.

Um dos caminhos comuns do negacionismo é desqualificar e agredir cientistas, sem necessariamente argumentar de fato, somente apresenta uma narrativa que se encaixa para o grupo em comum. Esse tipo de discurso, que se apresenta em uma lógica do neoliberalismo, percorreu o Brasil durante a história, passando pela Revolta da Vacina (1904), Gripe Espanhola (1918) e agora, a Covid-19. Estamos vivenciando, portanto, a era da pós-verdade, um neologismo que se refere ao cenário onde, no momento de criar e modelar a opinião pública, os fatos e os objetivos têm menos importância do que crenças pessoais e os apelos emocionais. Segundo Dunker e col. (ISBN: 8583180989), esse fenômeno envolve uma combinação calculada de observações, interpretações e fontes plausíveis, misturadas em um conjunto que é absolutamente falso e interesseiro. Esta era se caracteriza pela quebra de confiança no relacionamento humano, criando-se uma predisposição às crenças e às teorias da conspiração, gerando-se assim, um campo favorável à desinformação. Tem sido advogado o uso da Psicanálise para combater o negacionismo e a não adesão em massa das recomendações médicas, conforme publicação no periódico Lancet (DOI: 10.1016/ S0140-6736(20)32219-4).

Finalizo citando o escritor e filósofo italiano Umberto Eco: “As mídias sociais deram a palavra a uma legião de imbecis que antes só falavam numa mesa de bar, depois de uma taça de vinho, sem causar qualquer prejuízo à coletividade”.

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