Decretos e discursos desconexos

Luiz Eduardo Oliveira
Doutorando em Saúde e Ambiente

Tudo leva a crer que o COVID 19 é realmente uma ameaça avassaladora e mortal, porém tratável.

Poderemos crer que o confinamento ou isolamento social é a opção, porém não é a única.

São tantas informações que continuamos desinformados e principalmente esquecemos de fazer as ponderações, com prudência e serenidade diante de tantas ordens desordenadas.

Uma guerra, como constantemente alardeada, é constituída de batalhas. Esta envolve saúde e economia. Ambas mortais e destruidoras e a depender do enfrentamento, com efeitos devastadores pra toda uma geração ou gerações. O modus operandi dos generais ou estrategistas podem ser resumidos das mais variadas formas.

O mais recente decreto do governador do Estado de Sergipe, n. 40.567, de 24 de março de 2020 se propõe a atualizar, consolidar e estabelecer medidas de enfrentamento e prevenção à epidemia causada pelo COVID-19 e nos coloca em situação de confinamento compulsório diante desta emergência. Estabelece, o citado decreto, várias proibições elencadas no artigo 2º e expressa algumas determinações no inciso II do mesmo artigo. Já o artigo 19 institui o Comitê Gestor de Emergência, sem nenhum representante da sociedade civil organizada. Não já tínhamos um? Por fim, o referido decreto revogou os decretos 40.560 e 40.563, todos do mês de março do ano de 2020.

O Presidente da República vem a público, em rede nacional, e de forma surpreendente minimiza a histeria alegando a necessidade da volta ao trabalho, à escola e o retorno às atividade diárias, com as devidas cautelas.

A imprensa local, nacional e internacional divulga a todo instante um cenário apocalíptico, corroborando a necessidade do isolamento social.

As redes sociais publicam vídeos sustentando a não necessidade de isolamento total da sociedade, sob alegação de que o famigerado vírus já se encontra circulando por todos os lugares, inclusive nas casas.

O Nobel de Química, Michael Levitt, afirma que “a pandemia não apresenta risco para a maioria das pessoas e que elas são naturalmente imunes”, Revista Isto é, do dia 18-03-2020.

O estado paralelo também emite seus “decretos” e a diretoria do grupo de tráfico denominado “Família 5 Bocas”, que atua em uma comunidade do bairro Brás de Pina, região histórica da zona norte do Rio, ordena à comunidade o seguinte: “Comunicado importante – Atenção – Está proibido todo tipo de festa, resenhas e aglomeração nas ruas…”, reproduzido no jornal “Folha de São Paulo.

O mesmo jornal publica em manchete, edição do dia 18-03-2020: “Epidemiologistas divergem sobre eficácia de medidas drásticas contra o vírus.

O sucesso ou fracasso do “lockdown” palavra em inglês para se referir à parada da atividades econômicas e sociais, depende de muitos fatores segundo epidemiologistas.

Thomas Friedman, em artigo publicano no Brazil Journal, edição de 22-03-2020 registra o posicionamento de especialistas e questiona se a cura, mesmo que por um período curto, não será pior que a doença.

A sociedade reclusa, posta em quarentena, sem saber ao certo por quanto tempo, assisti a tudo, atônita, paralisada e amedrontada. Estamos sem norte, sul, leste ou oeste. Não há local seguro aonde ir. Os que possuem casa de praia, sítio ou fazenda e que podem estocar alimentos não sentem, ainda, o efeito devastador de todas essas medidas, a favor ou contra o isolamento social.

Nossa sociedade será impactada pelas chamadas ondas de choque econômicas e sociais. O estrago já é enorme e poderá se agravar ainda mais se não houver medidas mitigatórias urgentes e eficazes. Se estamos em uma guerra, que saibamos utilizar das armas disponíveis e que sejamos convocados ao ataque ou à resistência. Mesmo que o ataque seja, neste momento, a retirada ou o recuo. Podemos começar discutindo como, mesmo em casa, proporcionar a continuidade das relações sociais e econômicas. As ideias não podem e não devem ser postas em isolamento. Não é prendendo ou reduzindo salários de servidores que sairemos vitoriosos. Será que ainda há pessoas pensando em tirar proveito político desta situação?

Rolar para cima