Declínio na cobertura vacinal

Antônio Carlos Sobral Sousa
Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação

As vacinas são aplicadas, gratuitamente, nos postos de saúde e se constituem no principal armamento para o enfrentamento de uma virose. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de vacinação ideal é acima de 90% e o Brasil sempre foi considerado exemplo de excelência neste quesito. Todavia, segundo alerta do Instituto Butantan, a cobertura vacinal em nosso país vem despencando, perigosamente, nos últimos dez anos, colocando em risco a população, sobretudo a infantil, que tem se tornado mais vulnerável a doenças outrora erradicadas, como o sarampo e a poliomielite. A imunização contra a Covid-19, também tem enfrentado desafios decorrentes de desinformação, hesitação provocada por movimentos antivacina, curta duração da imunidade e, o surgimento de variantes virais altamente transmissíveis que escapam parcialmente dos anticorpos.

Nosso sistema imunológico é dividido em dois braços, o inato e o adaptativo. O primeiro, herdado, independe de exposição prévia ao vírus, inclui barreiras celulares e a secreção de substâncias que formam a primeira linha de defesa contra o agente agressor. Já o sistema adaptativo, desencadeado por contato com o vírus ou provocado por vacina, é apoiado em dois pilares do sistema imune, o humoral e o celular. No caso da Covid-19, por exemplo, a imunidade humoral é formada por anticorpos que se ligam à proteína Spike, do SARS-CoV-2, neutralizando o vírus ou eliminando-o por meio de outros mecanismos efetores. A imunidade celular, por sua vez, é composta por dois grupos de células, específicas contra o vírus: as do tipo “B” que também produzem anticorpos e as do tipo “T”, que tanto eliminam, diretamente, células infectadas pelo vírus, como fornecem apoio às demais respostas imunes. Para infecções virais agudas, incluindo as promovidas pelo novo coronavírus, é provável que os anticorpos neutralizantes sejam essenciais para bloquear a aquisição da infecção, enquanto uma combinação das respostas imunes humorais e celulares, provavelmente, controlam a replicação viral após a infecção e previnem a progressão para doença grave, hospitalização e morte. Uma revisão aprofundada sobre o tema pode ser apreciada no tradicional periódico New England Journal of Medicine (DOI: 10.1056/NEJMra2206573).

Tem sido motivo de preocupação, na atual Pandemia, a curta duração da imunidade adaptativa, tanto a promovida pela infecção viral em si, como a induzida pela vacinação, fato que tem se exacerbado, após o surgimento da cepa Ômicron e suas subvariantes, que exibem alto grau de escape imunológico. Todavia, já foi constatado que, aqueles que foram vacinados após terem sofrido a infecção pelo SARS-CoV-2 (imunidade híbrida), desenvolvem respostas imunes mais robustas, trazendo, portanto, a esperança de que a imunidade da população contra o nefasto vírus continuará a crescer, mediante a combinação de vacinação generalizada e infecção.

Algumas complicações como trombose e miocardite (a maioria de grau leve) têm sido relatadas após a vacinação, todavia com uma frequência incomparavelmente inferior às decorrentes da infecção pela Covid-19. Portanto, reafirmo que “perigoso é vírus e não a vacina”! Finalizo, citando o físico alemão, Max Planck: “A ciência é a aproximação, progressiva, do homem com o mundo real”.

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