A Covid-19 não é uma “gripezinha”!

Antônio Carlos Sobral Sousa*
Professor Titular da UFS

Desde o início da pandemia da Covid-19, em nosso país, em março de 2020, surgiram inúmeras variantes do SARS-Cov-2, com graus variados de virulência e de transmissibilidade. A variante Ômicron (B.1.1.529), relatada pela primeira vez na África do Sul em novembro de 2021 e designada, no mesmo mês, como “preocupante” pela Organização Mundial da Saúde, continua dominando, mediante as suas subvariantes, as infecções causadas pelo referido vírus, na atualidade. Embora tenha maior poder de transmissão do que suas antecessoras, a Ômicron tem provocado menos hospitalizações e mortes, influenciada, provavelmente, pela efetividade das doses de reforço das vacinas contra o nefasto agente infeccioso. Apesar desta constatação, parcela significativa da população não foi adequadamente imunizada, criando cenário propício para a manutenção do indesejado intruso entre nós e para o eventual surgimento de novas cepas do novo coronavírus.

Outro vírus, o influenza, causador da tradicional gripe, constitui um atormentador sazonal da população, particularmente para os indivíduos mais vulneráveis como os idosos e os imunodeprimidos. Os subtipos H3N2 e H1N do influenza A, têm sido os mais prevalentes nos surtos de gripe e também são eficazmente combatidos pela vacinação específica. Existem similaridades entre os quadros clínicos decorrentes das infecções pelo SARS-Cov-2 e pelo influenza, já que os dois vírus atacam, preferencialmente o trato respiratório, causando tosse, coriza, dor de garganta, febre, dor de cabeça e fadiga. Além disso, ambas as viroses podem ser fatais e são facilmente transmitidas por partículas respiratórias. Porém, as similitudes entre os dois tipos de doenças param por aí já que tem sido reportado um risco duas a três vezes maior de morte e de internações em unidade de terapia intensiva (UTI) com infecções comunitárias pelo novo coronavírus, comparativamente com as causadas pelo influenza (Doi: 10.2807/1560-7917.ES.2022.27.1.2001848). Vale ressaltar, todavia, que tais comparações foram feitas, sobretudo, com indivíduos infectados pelas variantes mais agressivas do SARS-Cov-2. Será que, no cenário atual dominado pela Ômicron que parece se associar com desfechos clínicos menos severos, essa diferença persiste?

Com o desidério de responder à esta importante indagação, foi recém publicado no conceituado periódico JAMA (Doi: doi:10.1001/jamanetworkopen.2022.55599) um artigo multicêntrico sueco que comparou os desfechos hospitalares de 3.066 pacientes infectados pela variante Ômicron do novo coronavírus com 2.146 portadores de gripe por influenza A ou B. Os investigadores concluíram que o risco de admissão em UTI não foi significativamente maior no grupo de portadores de Covid-19, comparativamente com o da gripe. No entanto, os infectados pela cepa Ômicron do SARS-Cov-2 exibiram 1,5 mais chance de morte intra-hospitalar, do que os portadores de influenza. Esta diferença foi duas vezes maior no subgrupo de portadores de Covid-19 que não haviam se vacinado contra a doença.

Portanto, a Covid-19, que ceifou a vida de quase 700 mil brasileiros, seguramente não é uma “gripezinha”, merecendo ser adequadamente combatida com vacina, assim como a gripe e as demais viroses importantes que até um passado recente mereciam atenção especial das autoridades competentes. Finalizo, citando frase de autor desconhecido: “Não reclame da vida, levante a cabeça. Dias ruins são necessários, para os dias bons valerem a pena”.

*Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação

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