Rafael da Cunha Oliveira
Bacharel em Relações Internacionais
Partindo-se de definições negativas às positivas, para se sentir sergipano não me parece ser necessário carregar as nossas expressões verbais, apesar de eu soltar o meu cabrunco quando estou aperreado, meu oxe quando estou incrédulo e chamar a mim mesmo de tabaréu em certas ocasiões. Sei que somos agentes ativos no processo de formação linguística e que há uma invasão de mano, meu, sussa e ok, mas a mim a riqueza da língua portuguesa dá conta do recado.
Tampouco me parece ser tão significativa a questão do sotaque, que pode ser tanto uma ferramenta para marcar uma posição, reforçando a origem geográfica do nascimento e criação de quem fala, quanto expor o fato de que quem fala teve pouca ou nenhuma vivência com outros modos de expressão e cultura e, portanto, expressa-se do único modo que conhece. Não se trata de uma defesa de passar férias em uma cidade e, por se sentir envergonhado pelo modo como as pessoas desse local lidam com o diferente, forçar uma mudança brusca. O processo, às vezes, dá-se de modo natural, ainda que achemos que não. A minha mãe e a minha sogra, por exemplo, nasceram no Rio de Janeiro-RJ e vieram morar em Aracaju por volta dos 14 anos. Nunca conheci ninguém que as identificasse à sua terra natal após uma conversa.
Comidas típicas? Também não penso ser tão relevante para determinar a sergipanidade, mesmo se contarmos com o afrancesado pão Jacó. Gosto muito de bolo de macaxeira e um pouco de canjica, mas arrisco dizer que milhões de brasileiros não sergipanos compartilham do mesmo gosto.
Hastear bandeiras do nosso estado em nossos quintais, como se vê com a americana em filmes produzidos em Hollywood? Não conheço um sergipano que o faça.
O que é, então, ser sergipano?
Entender a nossa história é um fator importante. O que atingimos nestes 200 anos de independência política em relação à Bahia? Simão Dias apresenta melhores indicadores que Paripiranga? Neópolis que Penedo? Propriá que Porto Real do Colégio? Canindé do São Francisco que Piranhas? Por que estamos melhor tendo a nossa própria representação política? Quais os impactos de 165 anos de mudança da capital? Qual a importância das históricas Laranjeiras e São Cristóvão? Problemática de intelectual, poderão argumentar com certa razão, dada a seriedade com que tratamos a nossa educação básica.
Em termos práticos, sergipanidade me parece ser a busca do progresso neste território, em vez de simplesmente buscá-lo por conta própria em outros lugares, esquecendo-se do que necessitamos por aqui ao atingi-lo. É a busca pela criação de parques tecnológicos, instalação de centros de pesquisa e desenvolvimento e atração de indústrias intensivas em tecnologias.
Não menos importante julgo ser o incentivo à nossa arte, fazendo-a crescer em técnica, auxiliada por institutos e centros voltados a tal finalidade. De outro modo, ficaremos a mercê da loteria dos talentos natos, como o pintor Cléber Tintiliano.
Valorizar a qualidade de vida nas cidades sergipanas. Na capital, por exemplo, temos uma joia da natureza em estado de semi-abandono, o Parque José Rolemberg Leite, conhecido como Parque da Cidade, localizado na zona norte de Aracaju, que abriga uma pequena reserva de Mata Atlântica. O fim de tarde na praia de Atalaia é um bálsamo, principalmente ao lado da pessoa amada. Programas que proporcionem atividade física em nossos parques e praças não ficam de fora.
Sergipanidade é também agregar qualidade à nossa gastronomia, trazendo o que há de estado da arte culinário e adaptá-lo, sempre que possível, à nossa realidade. Exemplos que considero de sucesso são a padaria Forneria, a cervejaria Uçá e o restaurante Cozinha Reboco.
Portanto, se ser sergipano é contribuir com o progresso do nosso estado, encerro a minha definição com um exemplo que considero um grande sergipano: Jouberto Uchôa de Mendonça. Não apenas construiu o próprio sucesso, como é responsável por milhares de empregos diretos e indiretos, por proporcionar educação superior a outros milhares, por contribuir com atividades culturais, de pesquisa e de extensão e, não menos importante, mostrar-nos que é possível alguém vir de um segmento menos privilegiado e ser capaz de grandes feitos.