Os corticoides como alternativa para os casos graves de covid-19

Profa. Dra Sandra Lauton Santos (sandralauton@gmail.com) Professora Associada de Biofísica do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de Sergipe, Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas

Dr. Ricardo Amaral (ricardoamaral23@hotmail.com) Pós-Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas

Dr. Enilton Camargo (eniltoncamargo@gmail.com) Professor Associado de Farmacologia do Departamento de Fisiologia da Universidade
Federal de Sergipe, Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas


Após serem descritos os primeiros casos de pneumonia em Wuham (China) e
posterior disseminação global do coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2
(SARS-CoV-2), o agente causador da doença coronavírus em 2019 (COVID-19)
transformou-se em um dos maiores desafios para ciência e humanidade
contemporâneas.
O vírus disseminou com grande velocidade, primeiro atingiu a Europa e depois os
demais países dos outros continentes, e a surgiu então a tarefa de tentar conter a sua
propagação com protocolos de segurança, e também encontrar um tratamento eficaz que
pudesse salvar as pessoas que apresentavam os sintomas da infecção.
A principal estratégia, orientada pela organização mundial da Saúde (OMS),
para descoberta de tratamentos para COVID-19, foi o reposicionamento de
medicamentos, ou seja, testar drogas convencionalmente usadas na prática clínica para o
tratamento de outras patologias contra a COVID-19.
O intuito dessa estratégia é gerar celeridade no processo de busca por
alternativas de tratamento, com baixo custo de produção e alta capacidade de suprir a
demanda mundial. Com isso, várias intervenções com medicamentos bem conhecidos
foram e estão sendo realizados com azitromicina, cloroquina, hidroxicloroquina,
ivermectina, nitazoxamida, dentre outros, e o resultado destas intervenções foram
acompanhados sistematicamente por médicos e pesquisadores, entretanto, sem
resultados que demonstrassem eficácia contra a doença em humanos, até o momento.
Por outro lado, estudos científicos realizados com uma das classes de drogas
mais amplamente prescritas do mundo, os corticoides, apontaram uma alterativa
terapêutica para casos graves da doença. Os corticoides ou glicocorticoides são uma
classe de medicamentos com ação anti-inflamatória e imunossupressora. Como os casos
graves da COVID-19 são caracterizados por uma resposta inflamatória exacerbada, a
ideia da utilização do corticoide é suprimir essa reação exagerada e promover melhora
do paciente.

Os primeiros trabalhos que relacionaram corticoide e COVID-19 foram
publicados até fevereiro de 2020 e divulgaram resultados que contraindicavam o uso de
corticoides para o tratamento precoce da COVID-19.
Entretanto, com a progressão dos estudos clínicos, surgiram evidências que
favoreceram os benefícios da corticoterapia para doentes críticos graves com síndrome
do desconforto respiratório agudo. A primeira evidência foi demonstrada por grupo de
pesquisadores americanos que mostraram, em maio de 2020, que o início precoce do
tratamento com corticoide (metilprednisolona) poderia ser benéfico na prevenção da
progressão da doença em pacientes com COVID-19 moderado a grave.
Contudo, não havia sido publicado um ensaio clínico com uma quantidade
importante de pacientes. Apenas em julho foram publicados os primeiros resultados
preliminares do estudo RECOVERY (Randomised Evaluation of Covid-19 Therapy),
com 2014 pacientes, que concluíram que o uso de corticoide (dexametasona) resultou
em menor mortalidade entre aqueles que estavam recebendo ventilação mecânica
invasiva ou oxigênio isolado.
Recentemente, o estudo publicado no Journal of the American Medical
Association (JAMA), em 2 de setembro de 2020, agrupou resultados de vários estudos
já realizados mostrando efeitos benéficos e consistentes do uso de corticoides,
fornecendo dados definitivos de que esses medicamentos devem ser o tratamento de
primeira linha para pacientes criticamente enfermos com COVID-19. Diante desses
dados, a OMS anunciou, em 02 de setembro, que recomenda fortemente a utilização de
corticoide (Dexametasona, Metilprednisolona ou Hidrocortisona) para o tratamento de
pacientes com COVID-19 em estado grave. No entanto, alerta que indivíduos sem
sintomas graves não devem utilizar o medicamento, principalmente porque eles podem
causar muitos efeitos indesejados no organismo sem trazer benefícios para a
recuperação dos casos não graves de COVID-19. Existe um momento adequado para
seu uso e é muito importante que seja o médico quem faça a prescrição no momento e
dose corretos.
Dessa maneira, apesar de muitos esforços para testar diferentes medicamentos
para a COVID-19, o que permanece com evidência científica suficiente é apenas o uso
de corticoides para pacientes apenas em estado grave. Embora outros medicamentos
venham sendo utilizados, não há embasamento científico que assegure sua eficácia.
Outros avanços também foram alcançados pelos profissionais de saúde, ajudando a
reduzir a mortalidade de pacientes gravemente enfermos. Em se tratando de

medicamentos disponíveis no Brasil, somente para os corticoides foi demonstrada
eficácia comprovada.

Profa. Dra Sandra Lauton Santos (sandralauton@gmail.com)
Professora Associada de Biofísica do Departamento de Fisiologia da Universidade
Federal de Sergipe, Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e do
Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas
Dr. Ricardo Amaral (ricardoamaral23@hotmail.com)
Pós-Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas
Dr. Enilton Camargo (eniltoncamargo@gmail.com)
Professor Associado de Farmacologia do Departamento de Fisiologia da Universidade
Federal de Sergipe, Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e do
Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas

COLUNA CIÊNCIA E SAÚDE – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
COORDENADOR: Prof. Dr. Ricardo Queiroz Gurgel

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