Os Pichadores da Patrulha Odara

Eugênio Nascimento   –   Ex-Aluno da UFS e jornalista

Em 1978 desembarcaram em Aracaju (SE) cinco estudantes, entre alguns outros baianos aprovados no Concurso Vestibular da Universidade Federal de Sergipe  (UFS). Eles eram conhecidos como Zebrão (Jailton Ribeiro), André, Mica (Almir Mesquita), Antônio Cesário e Antônio Carlos Maia. Tornaram-se conhecidos no ambiente estudantil da UFS por causa de uma certa independência que preservavam em relação àqueles que lideravam o   movimento estudantil.

Alguns militantes desse movimento os viam como meninões vaidosos de classe média e outros os consideravam direitistas, mas eles se entendiam como anarquistas. Quem eles eram ficou mais bem representado nas pichações que faziam nas ruas de Aracaju, principalmente no centro comercial e suas redondezas.  

Tinham aulas o dia todo, coisa normal em seus cursos de graduação. Entretanto, era ao anoitecer que se sentiam à vontade para fazer alguma coisa como contribuição para a luta em defesa da volta da democracia no país, que foi interrompida pelo golpe militar de 1964.

Pensaram muito antes de tomar a decisão. Veio a ideia de realizar pichações em defesa da volta do estado de direito e a partir daí criaram a Patrulha Odara, que não tinha vinculação com qualquer agremiação política. “Nós fazíamos o que queríamos”, lembra Zebrão.

Não era uma missão, mas sim uma forma de expressão, conforme explicou o então estudante Maia, que hoje mora em Salvador e com quem mantive contato no último domingo, 18 de junho e segunda, 19, deste ano de 2021.

Não tinham dias fixos para fazer as pichações. “Tudo dependia da boa vontade de todos”, explica Zebrão.  Estudantes e pessoas mais próximas deles identificavam as suas pichações devido à marca PO (Patrulha Odara), sempre ao final da mensagem,

‘Acho que essa nossa patrulha tinha um sentido anarquista, não se submetendo àqueles que comandavam os diretórios acadêmicos da UFS e defendiam a ditadura do proletariado, tampouco compactuando com a ditadura militar vigente na época e que influenciava muitos professores”, esclarece Zebrão.

Dirigentes de diretórios acadêmicos comentavam que eles se isolavam propositadamente, enquanto eles  diziam que o isolamento lhes era imposto. De vez em quando eram vistos no DCE ou em movimentos de protestos de rua, embora não direcionassem com frequência as ações pelo ME.

A contribuição maior que deram à luta pela democracia foram  as pichações com frases de Vladimir Maiakovski, Leon Trotsky, Pablo Neruda, Agostinho Santos, Ferreira Gullar, Vinicius de Morais, Castro Alves, Manoel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Mário Quintana,  Carlos Drummond de Andrade, Augusto dos Anjos e Gregório de Matos, o “Boca do Inferno”, entre outros. Isso sem esquecer o tradicional “Abaixo a ditadura”, mas sempre seguido de um algo mais.

Eles não eram militantes do movimento estudantil, mas, ainda assim, tentaram conquistar o diretório acadêmico de Medicina. Perderam nas urnas.  Segundo Maia, o bairrismo falou mais alto, afinal “éramos os estranhos, o povo de fora. Mas não ficaram mágoas. Eu, por exemplo, de vez em quando vou a Aracaju rever amigos e conversar. A saudade bate sempre. E forte”.

A composição da chapa foi organizada por Maia, Zebrão e André, que cursavam Medicina. Já Mica e Cesário eram alunos de Engenharia Civil.

A campanha dos opositores, que eram sergipanos, foi exibindo Zebrão, Maia e André como “o povo de fora”.  Eles se sentiram um tanto “queimados” e, em 1981, decidiram voltar para a Bahia, onde concluíram o curso na Escola Baiana de Medicina. Césario e Mica, os alunos da Engenharia Civil, também optaram por se “mandar” das terras do Cacique Serigy.

“Eu sei que voltamos para a Bahia, estudamos, concluímos nossos cursos e somos profissionais que deram certo.” Dois dos membro da Patrulha Odara morreram –  André, em acidente de moto , e  Mica, recentemente, vítima de Covid-19.

Segundo dicionários, o nome Odara significa “paz e tranquilidade”. É uma palavra que tem origem na cultura hindu e isso lhes garantia uma certa simpatia, até mesmo por causa da música que tem com esse nome o cantor e compositor baiano Caetano Veloso. Também serviu de inspiração o movimento “Poetas na Praça”, de Salvador (BA).

Ouvido por telefone e Whatsapp, Zebrão disse que “chegamos em1978 e maioria voltou para a Bahia em 1980 e 81. O retorno se fez necessário para maior dedicação aos estudos e para chegar à formatura”.

Veja a letra de Odara, de Caetano Veloso, a música que inspirou a criação da patrulha em Sergipe

ODARA

Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara

Minha cara minha cuca ficar odara

Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara

Pra ficar tudo joia rara

Qualquer coisa que se sonhara

Canto e danço que dara

Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara

Minha cara minha cuca ficar odara

Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara

Pra ficar tudo joia rara

Qualquer coisa que se sonhara

Canto e danço que dara

Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara

Minha cara minha cuca ficar odara

Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara

Pra ficar tudo joia rara

Qualquer coisa que se sonhara

Canto e danço que dara

Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara

Minha cara minha cuca ficar odara

Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara

Pra ficar tudo joia rara

Qualquer coisa que se sonhara

Canto e danço que dara

Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara

Minha cara minha cuca ficar odara

Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara

Pra ficar tudo joia rara

Qualquer coisa que se sonhara

Canto e danço que dara

Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara

Minha cara minha cuca ficar odara

Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara

Pra ficar tudo jóia rara

Qualquer coisa que se sonhara

Canto e danço que dara

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